Em Dois Portos (Torres Vedras), junto à linha ferroviária, no edifício onde atualmente funciona a Adega Cooperativa de Dois Portos, podemos observar um painel publicitário em azulejos com o logótipo da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L.
A Sociedade Abel Pereira da Fonseca foi fundada em 1906 e dedicou-se principalmente à produção e exportação de vinhos. Os seus vários armazéns recorreram muitas vezes à utilização do azulejo para fins publicitários e de identificação. São exemplos os armazéns de Dois Portos e Runa (Torres Vedras) e Serpa (Beja). Entre o vasto património deixado pela empresa destaca-se, na Praça David Leandro da Silva em Marvila, um imóvel de interesse municipal construído em 1917 e conhecido como a "Catedral do Vinho", da autoria do arquiteto Manuel Joaquim Norte Júnior. Situado próximo da linha ferroviária do Oeste e do rio Tejo, este permitia armazenar o vinho produzido nas quintas do Bombarral e exportá-lo para outros países, como os Estados Unidos e Suécia, e ex-colónias portuguesas.
No Mercado do Bolhão, no Porto, é possível ainda encontrar dois painéis azulejares que publicitam os vinhos Menagem (o "Vinho dos Embaixadores") e Sanguinhal (o "Vinho sem Rival"), ambos comercializados pela sociedade. A empresa cessou atividade em 1993, mas a Companhia Agrícola do Sanguinhal, também fundada por Abel Pereira em 1926, mantém-se em funcionamento, nas mãos dos seus netos e bisnetos.
Conta-se que Fernando Pessoa era cliente habitual do "Abel". É famosa a fotografia em que o poeta se encontra ao balcão de um dos estabelecimentos, onde escreveu "Isto sou eu no Abel, já próximo do Paraíso Terrestre, aliás perdido", dedicatória deixada ao poeta Carlos Queirós. A tia de Carlos, Ofélia Queirós, ex-namorada de Pessoa, terá também recebido uma cópia com a legenda "em flagrante delitro". Em homenagem ao poeta Fernando Pessoa e ao fundador Abel Pereira da Fonseca, a Companhia Agrícola do Sanguinhal criou a marca de vinhos CASABEL, cujo rótulo ostenta a referida dedicatória a Carlos.